02 agosto 2010

Deus é mais forte

Ibotity tinha subido numa árvore quando o vento soprou; a árvore se partiu, Ibotity caiu e quebrou a perna.


- A árvore é forte porque quebrou minha perna – disse.


- O vento é mais forte que eu – disse a árvore.


Mas o vento disse que a colina era mais forte, já que ela podia parar o vento. Ibotity. É claro, pensou que a força estava na colina, porque ela podia parar o vento, o vento que partiu a árvore, a árvore que quebrou sua perna.


- Não disse a colina, enquanto explicava que o rato era mais forte, porque podia esburacar a colina.


- Eu posso ser morto pelo gato – contestou o rato.


Assim Ibotity pensou que o gato deveria ser mais forte.


De jeito nenhum – disse o gato, explicando que podia ser apanhado por uma corda.


Ibotity achou que a corda devia ser a coisa mais forte. A corda, porém, explicou que podia ser cortada pelo ferro. Portanto o ferro era mais forte. O ferro, por sua vez, negou ser o mais forte, já que podia ser derretido pelo fogo.


Ibotity então pensou que o fogo devia ser o mais forte, porque ele derretia o ferro que cortava a corda, a corda que prendia o gato, o gato que caçava o rato, o rato que esburacava a colina, a colina que parava o vento, o vento que partiu a árvore, que quebrou a perna de Ibotity.


O fogo disse que a água era mais forte. A água declarou que a canoa era muito mais forte, porque, porque sulcava a água. Mas a canoa foi superada pela rocha, e a rocha pelo o homem, e o homem pelo mago, e o mago pela prova do veneno, e a prova do veneno por Deus. Assim, Deus é mais forte de que tudo.


Ibotity pensou então que Deus podia vencer a prova que imobilizava o mago, que dominava o homem,que quebrava a pedra, que derrotava a canoa, que fendia a água, que apagava o fogo, que fundia o ferro, que partia a corda, que prendia o gato, que matava o rato, que esburacava a colina, que parava o vento, que rachava a árvore que quebrou a perna de Ibotity.

08 abril 2010

As Aparências

Conta o sufi Mullá Nasrudin que certa vez visitou a uma casa de banhos pobremente vestido, e foi tratado de maneira regular a mal e ao sair deixou uma moeda de ouro de gorjeta.

Na semana seguinte foi ricamente vestido e se desdobraram para atendê-lo... deixou uma moeda de cobre, dizendo:

- Esta é a gorjeta pelo tratamento da semana passada e a da semana passada, pelo tratamento de hoje.

A Mulher Perfeita

Nasrudin conversava com um amigo.

- Então, nunca pensou em casar-se?

- Sim pensei – respondeu Nasrudin. – Em minha juventude, resolvi buscar a mulher perfeita. Cruzei o deserto, cheguei a Damasco, e conheci uma mulher muito espiritual e linda; porém ela não sabia nada das coisas deste mundo.

Continuei viajando e fui a Isfahan; ali encontrei uma mulher que conhecia o reino da matéria e o espiritual, porém não era bonita.

Então resolvi ir até o Cairo, onde comi na casa de uma moça bonita, religiosa, e conhecedora da realidade material.

- E por que não casaste com ela?

- Ah, companheiro meu! Lamentavelmente ela também queria um homem perfeito.

Vivo ou Morto

O Mullá estava pensando em voz alta.

- Como sei se estou vivo ou morto?

- Não sejas estúpido – disse sua esposa – se estivesses morto, teus membros estariam frios.

Pouco tempo depois, Nasrudin se encontrava em um bosque cortando lenha. Era pleno inverno. De repente se deu conta de que suas mãos e pés estavam frios.

Sem dúvida estou morto – pensou – de modo que devo interromper meu trabalho. Os cadáveres não saem por aí caminhando, se deitou na relva.

Logo chegou uma matilha de lobos e começou a atacar o asno de Nasrudin, que estava preso a um arbusto.

- Vamos, continuem, aproveitem de um homem morto – disse Nasrudin sem mover-se – porem se estivesse vivo, não permitiria estas liberdades com meu asno!

O Custo de Aprender

Nasrudin decidiu que poderia beneficiar-se aprendendo algo novo e foi visitar a um renomado mestre de música:

- Quanto você cobra para ensinar-me tocar flauta? – perguntou Nasrudin.

- Três peças de prata no primeiro mês; depois uma peça de prata por mês – respondeu o mestre.

- Perfeito! – disse Nasrudin; - começarei pelo segundo mês.

07 abril 2010

O Urso

Um rei que gostava da companhia de Nasrudin, e também da caça, lhe ordenou que lhe acompanhasse na caça ao urso. Nasrudin estava aterrorizado.

Quando Nasrudin voltou a sua aldeia, alguém lhe perguntou: como foi a caça?

- Maravilhosa.

- Quantos ursos encontrou?

- Nenhum.

- Então, por que diz que foi maravilhosa?

- Quando se está caçando ursos, e você sou eu, não ver nenhum urso é uma experiência maravilhosa.

O Contrabandista

Nasrudin cruzava a fronteira todos os dias, com as cestas de seu burro carregadas de palha. Como admitia ser um contrabandista, quando voltava a casa a noite os guardas da fronteira lhe revistavam uma e outra vez. Revistavam sua pessoa, reviravam a palha, a submergiam em água e inclusive a queimavam de vez em quando.

Entretanto, a prosperidade de Nasrudin aumentava visivelmente.

Um dia se aposentou e foi viver em outro país, onde, alguns anos mais tarde, encontrou os guardas aduaneiros.

- Agora podes me dizer, Nasrudin, o que passavas de contrabando, que nunca conseguimos descobrir?

- Burros - respondeu Nasrudin.